Essa é uma constatação que não tirei de livro, nem de palestra. É algo que vi, vivi e confirmei em todas as empresas pelas quais passei. E, hoje, como consultor, continuo vendo a mesma cena se repetir nos bastidores das organizações: o mundo corporativo está longe de ser um lugar ingênuo — e quem entra achando que vai encontrar uma irmandade profissional, sai machucado, frustrado ou, pior, perdido.

Toda empresa é feita de pessoas. E onde há gente, há disputa, vaidade, estratégias veladas, egos inflados e doses generosas de atuação. Não é sobre ser cruel. É sobre reconhecer a realidade. A empresa não é a Disney. Nunca foi. É um grande tabuleiro de xadrez, onde cada um move suas peças conforme seus interesses, oportunidades e instintos de sobrevivência.

Não se trata de dizer que todo mundo é falso. Mas sim que o jogo exige versões ajustadas de nós mesmos. Às vezes sorrimos quando queríamos sair da sala. Concordamos quando por dentro discordamos. Fazemos alianças com quem não escolheríamos nem para almoçar. Não por fraqueza — mas por estratégia. Porque, se formos 100% autênticos o tempo todo, talvez não duremos 100% do tempo.

Há quem chame isso de falsidade. Eu prefiro chamar de inteligência cênica. E é exatamente isso que falta para muita gente. Não se trata de se vender. Mas de saber se posicionar. De entender que existe hora de calar, hora de falar, hora de recuar e hora de blefar. Como num bom jogo — com elegância, ética e, sim, intenção.

Quem trabalha em empresa há mais tempo já aprendeu isso. Quem está chegando agora, muitas vezes, ainda não entendeu que sinceridade sem estratégia é tiro no pé. Que autenticidade sem filtro pode soar como imaturidade. E que bondade sem firmeza é confundida com fraqueza.

Sim, existe jogo de poder. Sim, há decisões tomadas nos bastidores. Sim, há líderes que sorriem enquanto puxam tapetes — e colegas que te aplaudem na frente e te detratam por trás. E não, isso não vai mudar só porque você é uma boa pessoa.

Mas calma. Isso não é uma tragédia. Na verdade, é uma libertação. Porque quanto antes você entender que o ambiente corporativo é um campo de forças — mais preparado você estará para jogar com consciência, e não com ingenuidade.

Você não precisa se tornar uma peça fria, nem perder sua essência. O segredo está em combinar caráter com inteligência, ética com leitura de contexto, valores com capacidade de navegação. Isso sim é maturidade profissional. É o ponto onde você sabe jogar — sem se perder no jogo.

E mesmo diante de tudo isso, a boa notícia é: há espaço para quem joga limpo com inteligência. Profissionais que equilibram verdade com tato, presença com escuta, entrega com jogo de cintura, são valorizados — e lembrados. Eles não são os que mais gritam. São os que mais duram. São os que conquistam confiança sem precisar bajular. Os que crescem porque sabem ler as entrelinhas — mas não se corrompem por elas.

Portanto, não se iluda. Mas também não se amargure. O mundo corporativo não é um lugar puro. Mas pode, sim, ser um lugar de evolução, crescimento, trocas sinceras e até de amizades verdadeiras — desde que você jogue com consciência, sem perder sua integridade no processo.

No fim das contas, o jogo é duro. Mas não precisa ser sujo.
E quem sabe jogar com verdade, astúcia e elegância… não só sobrevive.
Voa longe.

Por Ronaldo Loyola, especialista em gestão de pessoas e fundador da LHRC Consultoria (www.lhrc.com.br).

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